
O PUDOR DA FLOR
maio / 2021
Ouça o texto curatorial












Vista da Exposição

1
Abre-se a flor
Fecha-se a porta do banheiro.
Encontra-se o tempo, despudorado no espelho.
2
Desenha-se o pistilo, o caule, os ossos, o feto.
Como quem destranca o acesso ao espaço íntimo da casa.
Dá-se existência exterior ao que era interno, num ciclo contínuo de vida e morte.
3
Não nascer mulher, mas tornar-se.
Porque se aprende
Porque te ensinam a ter pudor enquanto experimentas os primeiros passos.
Não nascer mãe, mas encontrar a maternidade no avesso das fronteiras entre o antes e o depois.
4
No meio dos ciclos está o desenho.
A forma inebriante da flor, o tom ambíguo de um rosa, o labiríntico rejunte do azulejo do banheiro.
5
O círculo cíclico da lua-sol
A forma acrobática de uma perna que se esgrima no corpo entre o lazer, o espreguiçar e relaxar.
6
Revisitar desenhos antigos, revirando ciclos passados que perderam o vazio e encontraram novos estados possíveis.
7
Quem morreu não era homem nem mulher, tornou-se.
O que nasceu durou pouco tempo até virar do avesso.
Quem amamentou, cultivou o vão de dentro que passa a ter vida exterior.
8
A porta do banheiro fecha-se, não por pudor, mas porque aprendemos a respeitar o saneamento básico do silêncio.
A flor, simples assim, abre e fecha, brota desabrocha, murcha e ciclicamente alimenta a lua-sol do espelho.
Célia Barros
Curadora




Estudos - 2020
Ficha Técnica:
Célia Barros - curadoria
Paulo Henrique Rosa - galerista e produtor cultural
Melissa Rahal - produção audiovisual, edição de áudio e vídeo.
Daniel Felipe Paiva - câmera e edição de áudio
Thiago Valezi Veloso - câmera
Lígia Maria Ribeiro - roteiro de audiodescrição e Audiodescrição
Luciane Molina - consultora em audiodescrição
Reginaldo de Oliveira Coelho - Intérprete de Libras
Projeto contemplado com o prêmio Lei Aldir Blanc:
